Crianças e adolescentes órfãos do feminicídio são filhos de
mulheres assassinadas em situações de violência doméstica ou por menosprezo à
condição do sexo. Entre as 47 mulheres vítimas de feminicídio em Mato Grosso em
2024, 41 delas eram mães.
Os números fazem parte da análise detalhada da Diretoria de
Inteligência da Polícia Civil. O relatório “Mortes Violentas de Mulheres e
Meninas em Mato Grosso por razões de gênero 2024” é produzido com base nos
dados dos boletins de ocorrências de homicídios e feminicídios, cruzamento de
informações e em inquéritos policiais e traz o perfil das vítimas e autores dos
crimes, local e meio empregado, solicitação de medidas protetivas e os efeitos
da violência praticada contra mulheres e adolescentes.
Os crimes fizeram 89 órfãos do feminicídio. Dezessete deles
eram filhos biológicos dos autores dos feminicídios; quatro perderam também os
pais, que cometeram suicídio após assassinarem suas companheiras ou
ex-companheiras.
Nove mulheres foram mortas na frente dos filhos, entre elas
Gleiciane de Souza, 35 anos, assassinada na cidade de Jaciara, em setembro do
ano passado. Antes de matá-la, o esposo a agrediu dentro de casa; em seguida, a
arrastou para a rua e fez vários disparos contra a vítima. O crime foi cometido
na frente dos filhos do casal, duas crianças de 8 e 9 anos de idade. O
criminoso ainda ateou fogo no corpo da vítima.
Romper o silêncio pode fazer a diferença.
A violência contra as mulheres deixa marcas em todo o
círculo familiar e, muitas vezes, a única alternativa para as vítimas é tentar
romper o silêncio da violência diária e buscar auxílio dos órgãos estatais.
Durante o ano de 2024, a Polícia Civil registrou 17.910
medidas protetivas de urgência, um aumento de 6% comparado ao ano anterior.
A medida protetiva, prevista no artigo 24 da Lei 11.30/2006,
conhecida como Lei Maria da Penha, é um mecanismo judicial utilizado para
proibir que agressores se aproximem das vítimas, seja fisicamente ou por meios
eletrônicos.
Entre as 47 mulheres vítimas de feminicídio em 2024, somente
uma tinha medida protetiva de urgência; 38% das vítimas já tinham sofrido
violências anteriores de parceiros passados e atuais; e apenas 17% das mulheres
denunciaram os autores dos assassinatos.
Os números apontam a necessidade de ampliação dos serviços
públicos às mulheres que sofrem violência diária, de qualquer natureza, para
que se sintam protegidas e busquem os mecanismos de denúncia e atendimento
especializado.
A Lei 14.994, sancionada em outubro do ano passado tornando
o feminicídio um crime autônomo e hediondo, com pena de 20 a 40 anos, prevê
várias majorantes que podem ampliar a pena para o autor do delito e o
descumprimento das medidas protetivas de urgência é uma delas.
Em 2024, o número de descumprimento da medida judicial
alcançou 7% a mais na comparação com o ano anterior, chegando a 3.171 registros
contra 2.904 de 2023.
Acolhimento
Além do atendimento e acolhimento às mulheres nas unidades
especializadas instaladas em oito cidades-polo do estado e 24 núcleos
especializados em delegacias do interior, a Polícia Civil conta com uma
ferramenta digital criada há quatro anos, o aplicativo SOS Mulher MT.
O sistema reúne a solicitação de medidas protetivas online,
botão do pânico virtual para auxiliar e apoiar vítimas de violência doméstica.
A criação do sistema contou com a colaboração do Tribunal de
Justiça e da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). O aplicativo
permite acesso a outras funcionalidades, como telefones de emergência,
denúncias e a Delegacia Virtual.
Pelo endereço sosmulher.pjc.mt.gov.br a vítima pode
solicitar a medida protetiva de urgência online, sem a necessidade de se
deslocar até uma delegacia.
O aplicativo permite ainda que a mulher tenha acesso ao
Botão do Pânico, um pedido de socorro no formato virtual, que pode ser acionado
quando o agressor descumpre a medida protetiva. No ano passado foram deferidos
5.223 pedidos do Botão de Pânico.
Ao acionar o serviço, o pedido chega ao Centro Integrado de
Operações de Segurança Pública, que enviará a viatura mais próxima em socorro à
vítima. Entre janeiro e dezembro de 2024, o botão foi acionado 649 vezes nas
cidades de Cuiabá, Rondonópolis, Várzea Grande e Cáceres.