A cotonicultura brasileira tem crescido
significativamente e desempenha um papel essencial na economia do país,
fornecendo matéria-prima para a indústria têxtil, assumindo a liderança mundial
nas exportações em 2024 com uma produção sustentável recorde de 3,7 milhões de
toneladas, sendo 70% da pluma produzida em Mato Grosso, segundo os dados da
Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA).
No entanto, a produção enfrenta desafios constantes, como
a mancha angular do algodoeiro, uma doença causada pela bactéria Xanthomonas
axonopodis pv. malvacearum (Xam). Essa praga pode comprometer gravemente a
produtividade, causando lesões nas folhas que levam à perda da plantação. O uso
de fungicidas cúpricos, uma das formas mais comuns de controle, apresenta
limitações, já que apenas retardam a doença e não eliminam a bactéria. Além
disso, esses produtos podem ter alto custo operacional e impactos ambientais
adversos.
Com isso, pesquisadores de Mato Grosso têm investigado
novas soluções mais eficazes e sustentáveis, e uma das estratégias promissoras
envolve o uso de substâncias orgânicas, conhecidas como chalconas. Esses
compostos químicos pertencem à classe dos flavonoides e possuem propriedades
farmacológicas diversas, incluindo atividades antimicrobianas, antioxidantes,
anticancerígenas e antiparasitárias. Estudos recentes indicam que as chalconas
podem atuar contra a bactéria Xam, tornando-se uma alternativa viável ao
combate da mancha angular.
Esses estudos científicos fazem parte do edital 004/2024
- Mulheres e Meninas na Computação, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra,
financiado pelo governo do estado, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de Mato Grosso (Fapemat), coordenada pela professora doutora Aline
Bernardes Valeze do Instituto Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá Bela Vista.
As chalconas são cetonas a,ß-insaturadas caracterizadas
por dois anéis aromáticos ligados por uma estrutura altamente reativa. Além de
serem precursoras na biossíntese de flavonoides, elas desempenham um papel
essencial na defesa natural das plantas. Cientistas têm explorado diferentes
modificações estruturais nesses compostos para aumentar sua eficácia
antimicrobiana. Estudos apontam que a presença de determinados substituintes
nos anéis aromáticos pode potencializar sua bioatividade.
Uma linha de pesquisa recente busca sintetizar análogos
de chalconas contendo grupos tiofeno e tiazol, estruturas que já demonstraram
potencial no aumento da atividade antibacteriana. Essas moléculas são obtidas
por meio da condensação de Claisen-Schmidt, uma reação química amplamente
utilizada para a síntese de flavonoides. O objetivo é desenvolver compostos
inéditos e avaliar sua ação contra a Xam por meio de ensaios laboratoriais.
A caracterização físico-química das chalconas
sintetizadas estão sendo feita utilizando diversas técnicas, como
espectroscopia de infravermelho, ressonância magnética nuclear e cristalografia
de raios-X. Além disso, serão realizados testes de viabilidade celular para
determinar a concentração inibitória mínima (CIM) e a concentração bactericida
mínima (CBM) dos compostos contra a bactéria. Os pesquisadores também utilizam
modelos computacionais avançados, como os softwares Gaussian 03 e HyperChem
Release® 7.5, para entender a relação entre a estrutura química das chalconas e
sua atividade biológica.
Esses compostos poderão não apenas auxiliar no controle
da mancha angular, mas também servir como protótipos para novas moléculas
antibacterianas aplicáveis a outras doenças agrícolas. Dessa forma, a pesquisa
poderá contribuir significativamente para a proteção das lavouras de algodão,
reduzindo os impactos econômicos causados pela doença e promovendo práticas
agrícolas mais sustentáveis.
O avanço nesse campo representa um passo fundamental na
busca por alternativas eficientes, econômicas e ambientalmente viáveis para o
controle de doenças na cotonicultura, garantindo maior produtividade e
sustentabilidade para o setor agrícola brasileiro.
De acordo com a pesquisadora, “estamos formando
mão-de-obra especializada nesse projeto, onde temos cinco (5) discentes
bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso, sendo duas
estudantes do ensino médio técnico integrado, duas estudantes de graduação e
uma pesquisadora estudante do mestrado profissional em química tecnológica e
ambiental, Aimê Giovana Miranda Vilarindo , Ana Vitória de Siqueira Gomes, Luana
Leite Rocha, Millka Agda Santos, Isadora Maria de Carvalho Monteiro Castro”.