Um acordo entre o governo e os deputados resultou na
revogação da lei que criou o novo Seguro Obrigatório para a Proteção de Vítimas
de Acidente de Trânsito (SPVAT), antigo DPVAT. O governo também aceitou o
bloqueio apenas de emendas parlamentares não impositivas, em vez de todas as
emendas.![]()
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Os dois pontos foram aprovados em destaques ao primeiro
projeto de lei complementar do pacote de corte de gastos. Na noite de
terça-feira (17), os deputados tinham aprovado o texto-base por larga margem,
318 votos a favor (eram necessários 257) e 149 contrários. No entanto, a
votação dos destaques tinha ficado para esta quarta-feira (18).
O governo fechou o acordo para aprovar os destaques e
garantir a continuidade do pacote de revisão de gastos públicos. O projeto
segue para o Senado.
Extinta em 2020, a cobrança do DPVAT tinha sido recriada sob
o nome de SPVAT, que entraria em vigor em janeiro. A recriação do seguro
enfrentava a resistência de governadores.
Emendas
Em relação às emendas parlamentares, o governo concordou em
retirar do projeto de lei complementar a autorização para o contingenciamento e
o bloqueio de todas as emendas parlamentares. Pelo texto que irá ao Senado, o
governo poderá congelar apenas emendas de comissão e emendas de bancadas
estaduais não impositivas, até 15% do total. As emendas obrigatórias não
poderão ser bloqueadas.
A medida desidrata parcialmente o corte de gastos. Caso as
emendas impositivas pudessem ser congeladas, o governo poderia bloquear ou
contingenciar R$ 7,6 bilhões em emendas no próximo ano. Agora, o Executivo só
poderá cortar R$ 1,7 bilhão, R$ 5,9 bilhões a menos. O levantamento
desconsidera as emendas de bancada estaduais não impositivas, cujo valor para
2025 depende da aprovação do Orçamento do próximo ano.
Gatilhos
O principal ponto mantido no projeto de lei complementar foi
a criação de gatilhos que proíbem a criação, ampliação ou prorrogação de
incentivos tributários caso haja déficit primário (resultado negativo das
contas do governo sem os juros da dívida pública) no ano anterior. O projeto
também limita a 0,6% acima da inflação o crescimento anual da despesa de
pessoal e encargos de cada um dos Poderes na mesma situação, déficit primário
no ano anterior.
Além dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário),
o projeto aprovado pelos deputados limita a 0,6% acima da inflação o
crescimento das despesas de pessoal do Ministério Público e da Defensoria
Pública no caso de resultado negativo das contas públicas.
As restrições vigoram até que o governo volte a registrar
superávit primário anual. A partir do projeto da lei orçamentária de 2027, as
duas limitações valerão se os gastos discricionários (não obrigatórios) totais
tiverem redução nominal em relação ao ano anterior.
Fundos
De 2025 a 2030, o governo poderá usar o superávit de cinco
fundos nacionais para abater a dívida pública. Os saldos positivos somavam, em
2023, R$ 18 bilhões.
Os fundos são os seguintes:
• Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD),
formado por multas pagas ao governo: superávit de R$ 2 bilhões
• Fundo Nacional de Segurança e Educação de
Trânsito (Funset): superávit de R$ 1,6 bilhão
• Fundo do Exército: superávit de R$ 2,5
bilhões
• Fundo Aeronáutico: superávit de R$ 8,7
bilhões
• Fundo Naval: superávit de R$ 3 bilhões
O relator do projeto, deputado Átila Lira (PP-PI), retirou
da proposta original do governo os seguintes fundos: Fundo Nacional Antidrogas
(Funad), Fundo da Marinha Mercante (FMM) e Fundo Nacional de Aviação Civil
(Fnac). Segundo o parlamentar, esses recursos são usados para investimentos
importantes.